Estamos habituados a olhar para os destinos paradisíacos que existem lá fora e tendemos, na maioria das vezes, a não prestar a devida atenção aos próprios tesouros que existem em Portugal. Felizmente, essa tem sido uma tendência que tem vindo a mudar, ainda que lentamente, nas últimas décadas, muito graças ao boom do turismo que invadiu o país. E à medida que os estrangeiros foram descobrindo o potencial que existe por terras lusitanas, também os portugueses começaram a perceber melhor os tesouros naturais que têm entre mãos.
Um desses tesouros é a praia do Baleal que, certa vez, o jornal norte-americano New York Post descreveu como a Califórnia da Europa. Afinal de contas, as semelhanças deste território com a costa oeste dos Estados Unidos da América são muitas: o clima, a prática favorável para o surf ou até mesmo a cultura vinícola. No fundo, tudo características que atraem milhares de visitantes a outros destinos turísticos internacionais e que, no Baleal, temo-los a todos concentrados no mesmo espaço.
O Baleal é uma pequena península situada ao norte de Peniche, no Oeste de Portugal, que forma uma das mais paradisíacas praias do nosso país. Tem uma frente para o mar e outra de costas, com um areal branco, que permite tirar fotografias dignas de qualquer capa de revista ou de uma conta de viagens do Instagram. Além disso, continuando pela península, surgem ainda outras praias e ilhéus, mais pequenas, que são excelentes alternativas para quando o Baleal está cheio.
O nome do Baleal, como é facilmente percetível, vem da antiga tradição da caça à baleia (e também do atum) que havia na zona. Com o passar do tempo e com a extinção dessa prática, ficou apenas a memória de um passado não muito longínquo e, claro, o nome. O Baleal abriu as suas portas ao turismo e, anualmente, recebe milhares de visitantes de todo o mundo, começando a marcar presença em várias revistas e publicações internacionais, como um dos segredos mais bem guardados da Europa.
Para além das suas características balneares e de veraneio, o Baleal destaca-se ainda pelo seu potencial para desportos náuticos em geral, e para o surf em particular. Este último surgiu na década de 80, mas consolidou-se ao longo do tempo, especialmente na entrada do século XXI. Hoje em dia encontra na zona várias praias boas para o surf, vários surf camps e até uma prova oficial do campeonato do mundo da modalidade (Rip Curl Pro Portugal).
É esse encontro de condições perfeitas – a temperatura, o estado do mar e até a qualidade e o custo de vida da zona – que têm transformado o Baleal num caldeirão de culturas, onde se concentram visitantes de todas as nacionalidades. Tornou-se cada vez mais banal ouvirem-se dezenas de línguas diferentes numa curta extensão do terreno, convivendo em perfeita harmonia, com as perfeitas condições atmosféricas que o verão português proporciona.
Contudo, o Baleal não é apenas praia e mar, como poderá parecer à primeira vista. Além disso, a zona tem ainda um rico património histórico e cultural, especialmente no que diz respeito à arquitectura. É o exemplo da Capela de Santo Estêvão, um dos ícones do Baleal, da qual se sabe muito pouco. É sabido que foi erguida em honra do padroeiro dos Pescadores, Santo Estêvão, algures entre o século XVI e XVII. Situa-se sobre uma rocha, como que a admirar a vastidão do mar, para onde partiam os pescadores, e o seu interior é totalmente revestido a azulejo, outra tradição muito portuguesa, contando uma história ao longo dos séculos.
Na zona é possível ainda identificar os restos de uma muralha, que parecem ruínas de um antigo castelo. Na verdade, são os vestígios de um forte do século XIX que nunca chegou a ser construído. Durante as invasões francesas, um tal oficial francês, de seu nome Thomières, mandou erguer um fortim no Baleal para conter uma possível invasão por mar dos ingleses. Tal como esse desembarque nunca veio a acontecer, também a construção do futuro forte do Baleal nunca se tornou realidade. Sobram os vestígios das muralhas para contar esta curiosa história.
O Baleal cruza assim séculos de história nacional com a sua beleza natural, de uma diversidade extremamente rica e eclética. Quem tem barco pode passear pelos ilhéus da zona, incluindo a Ilha do Baleal ou a Ilha das Sombras, descobrindo verdadeiros tesouros para a pesca natural ou para simplesmente, relaxar sobre o sol. Tudo isso é complementado por bares, um mini-mercado, alguns alojamentos locais e, claro, uma mini-povoação, que ajudam a dar vida e um ambiente pitoresco ao Baleal. Muitos chamam O Baleal, a Califórnia da Europa, mas se o mundo fosse um lugar justo, seria a Califórnia que seria conhecida como o Baleal norte-americano. Está na altura de começarmos a valorizar ainda mais o que é nosso.